A agricultura brasileira dispõe de cultivares e tecnologias para produzir cevada no cerrado o que poderia tomar a cadeia produtiva da cultura autossuficiente, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Porém, como não há viabilidade logística para que isso aconteça a maltaria mais próxima está em Taubaté (SP), a indústria da cerveja e do malte segue dependente de importações.
Segundo o pesquisador Euclydes Minella, da Embrapa Trigo, a concentração do segmento cervejeiro e a isenção de impostos do Mercado Comum do Sul (Mercosul), posto que a Argentina é a maior fornecedora do cereal para o Brasil, desestimularam a produção nacional. Outro fator impeditivo é o clima: a umidade tropical atrasa o germinar da cevada (que, para ser transformada em malte, obedece a um padrão mínimo de germinação de 95%).
Concentrada no Paraná e no Rio Grande do Sul, a produção brasileira de cevada deve ocupar 105 mil hectares neste ano, resultando em 300 mil toneladas do cereal. Nas maltarias (há somente três no País, e uma em construção), o volume é estimado em 460 mil toneladas 160 mil com base em matéria-prima importada. Contudo, as fábricas de cerveja consomem 12 milhão de toneladas do produto-base. Precisam trazer de fora, portanto, aproximadamente dois terços do total.
E, em breve, precisarão ampliar o nível de Importações, pois a Ambev indústria-mor do segmento, um caso típico de “campeão nacional" pretendido pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está para Inaugurar a quarta maltaria brasileira em Passo Fundo (RS).
“Muitos produtores estão saudosos de plantar cevada. Hoje, a cadeia é fechada: todo mundo planta sob contrato”, afirmou Minella “Já tivemos 150 mil hectares plantados no Brasil", lembrou. A cadeia, sem contar a indústria, movimenta R$ 250 milhões.
Possibilidades
“Existe uma possibilidade muito grande de o Brasil suprir sua própria demanda por cevada e malte. Mas a autossuficiência é difícil", analisou Minella. E “existe a possibilidade de se plantar cevada no cerrado, mas hoje é economicamente inviável, por causa do frete", ponderou.
Outras possibilidades para a cultura são os destinos dados a seu consumo. No País, o cereal é dedicado à fabricação de cerveja. Entretanto, no mundo, 70% do volume são utilizados na alimentação animal, segundo o especialista. “O momento está mudando, em potencialidade, para o uso da cevada no Brasil. Para o gado leiteiro, o cereal é superior a outros grãos”, disse Minella.
Em sua análise, a cevada-ração deve ser complementar à cultura do milho. Como é plantada geralmente entre maio e outubro, tem jeito de ser colhida anteriormente à semeadura do milho (entre setembro e outubro). Além disso, o milho vive sujeito à reação dos produtores diante dos preços que, quando baixam, provocam redução de área plantada e vice-versa.
“Como o preço do milho está valorizado, o pessoal começa a buscar alternativas. É um bom momento para incentivar o uso da cevada na cadeia do leite", afirmou o pesquisador da Embrapa. Segundo ele, o preço do cereal é atrelado às cotações do trigo.
Ainda outra possibilidade para o cereal é a do uso forrageiro: quando a semente da cevada não germina a nível útil (95%) para a indústria cervejeira, pode-se encaminhá-la para silos e forrageiras. Neste caso, o valor do produto equivale a 80% do preço do milho.
Por Bruno Cirillo - Seção Agronegócios / DCI
Fornecedor: Lupa Clipping
Por: Jornal DCI
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